Ela não deixa a gente sair

Oi! O meu nome é Glória e eu sou uma mãe de 29 anos de duas meninas: Márcia (6) e Sara (9). Eu gostaria de relatar a vocês o que aconteceu conosco quando nos mudamos para a nossa nova casa.

Tudo começou bem. Nós tínhamos comprado uma linda casinha. Era uma daquelas casas dos sonhos, e nós éramos uma dessas famílias dos sonhos: um pai, uma mãe, duas filhas, um cachorro e dois gatos. Nos mudamos logo para a nossa nova casa. No começo todos nós nos sentimos à vontade e aconchegados — exceto a minha filha mais nova, Márcia. Ela não queria entrar na casa no início e, quando finalmente entrou, chorou e disse que estava com frio.

Uma das minhas gatas, a Peluda, também parecia ter medo da casa. Agia de forma estranha, sempre tensa, como se algo a incomodasse. Achei que fosse porque ela tinha tido oito filhotes recentemente e ainda estava protetora por instinto. Então simplesmente ignorei o comportamento dela e esperei que passasse.

Depois de duas semanas em um hotelzinho — e com os bichinhos em um canil — nós finalmente terminamos de mobiliar a casa. Ela estava maravilhosa, até melhor do que antes! Linda por dentro e por fora. Mas havia algo que me incomodava: uma sensação estranha quando eu ficava sozinha na casa. Eu tentava ignorar (o melhor que podia), talvez porque não queria acreditar que houvesse algo errado.

Pouco depois de nos mudarmos definitivamente, uma noite eu estava colocando a Márcia para dormir quando ela começou a chorar.

— O que foi, querida? — perguntei.

Ela chorava como se algo sério a estivesse incomodando, e ela não era de chorar fácil. A Sara era a sensível; chorava por tudo.

— Eu não quero ficar no meu quarto, mãe — ela falou, soluçando. — O Mateus pode voltar.

Eu fiquei confusa. Ninguém na nossa família se chamava Mateus, e não conhecíamos ninguém com esse nome.

— Quem é Mateus, querida? — perguntei.

Ela ficou um tempo em silêncio, apenas me olhando. Depois de alguns minutos, sussurrou:

— Mateus é o homem alto que vem no meu quarto toda noite e me assusta.

E então começou a chorar de novo — agora aos prantos.

— Eu não quero dormir no meu quarto! — ela gritava.

Eu já estava cansada e insisti para ela fechar os olhos e tentar dormir. Mas ela não se acalmava. Quando apaguei a luz e desci a escada, ela começou a berrar, e ficou assim por muito tempo, até que o meu marido resolveu subir para ver o que estava acontecendo. Ele detesta ouvir criança chorando — o deixa muito incomodado.

Depois de um tempo, o Beto desceu com a Márcia no colo, ainda chorando, e disse:

— Querida… acho melhor você vir ver isso.

Eu achei que a Márcia tinha feito bagunça ou espalhado brinquedos, mas quando entrei no quarto… quase desmaiei.

A parede estava toda arranhada. E, com arranhões, estava escrito: “Quer brincar, Márcia?”

A Márcia nem sequer sabia escrever.

Acordei a Sara e fomos todos dormir em um hotel perto de casa. No dia seguinte, chamei um padre para abençoar a casa.

Depois disso tudo ficou calmo. Nada de estranho aconteceu de novo… até que a Stela apareceu.

De vez em quando, a Márcia inventava um amigo imaginário… e a Sara sempre a provocava por causa disso, até que o “amigo” desaparecesse. Mas dessa vez foi diferente.

Eu estava no meu quarto lendo quando ouvi a Márcia dizer uma frase que nunca vou esquecer:

— Oi, Stela. O meu nome é Márcia. Toma, você pode brincar com a minha boneca.

Ela disse isso com a voz mais linda e alegre que eu já tinha ouvido. Achei que fosse só mais um amigo imaginário. Mas, minutos depois, ouvi a Sara entrando no quarto dela. Como o quarto da Márcia era ao lado do meu, consegui ouvir tudo.

— Oi, Márcia — disse a Sara, em tom provocador. — Quem é a sua amiga?

Márcia ficou em silêncio por alguns segundos.

— Essa é a Stela. Ela é legal. Quer brincar com ela?

Eu me preparei para uma briga — mas, para minha surpresa, ouvi a Sara dizer:

— Tudo bem! Oi, Stela! Eu tenho uma caixa de joias que um amigo me deu. Você quer ver?

Eu fiquei em choque. A Sara nunca se juntava às brincadeiras da irmã. Isso me deu um frio na espinha.

Com o passar dos dias, Stela fez sua presença ser notada. As duas brincavam por horas, parando apenas para comer e ir ao banheiro. E sempre que desciam para as refeições, colocavam um prato extra à mesa — para a Stela.

Os animais fugiam delas: se escondiam, rosnavam, ficavam arrepiados. Nunca tinham feito isso antes.

Eu e o Beto começamos a ficar preocupados. A Stela parecia estar tomando conta da vida das meninas. Elas não faziam mais nada que gostavam nas férias. E quando pedíamos para pararem com isso, elas paravam por um tempo… mas Stela sempre voltava.

Eu realmente acreditava que Stela era só uma amiga imaginária — até o dia em que passamos o dia inteiro fora, em um parque de diversões. As meninas amaram, mas quando voltamos para casa… a cozinha estava uma bagunça. Pratos quebrados, água, refrigerante e comida espalhados. Talheres no chão. E os animais escondidos, como se estivessem aterrorizados.

Isso nos assustou. Mas o pior ainda estava por vir.

As férias acabaram e as garotas voltaram para a escola. E isso deixou a Stela furiosa. Eu e meu marido ouvíamos batidas nas paredes quando estávamos em casa e as meninas estavam na escola. Também ouvíamos algo arranhando o chão (mesmo com os bichos no quintal), e às vezes até gritos — não de medo, mas de pura raiva.

Numa segunda-feira de manhã, o meu marido saiu cedo para o trabalho e eu estava preparando as meninas para a escola. As duas estavam sombrias e quietas. Os animais, muito estranhos: se recusavam a entrar na casa, ficando apenas no quintal.

Aquilo me incomodou tanto que perguntei o que estava acontecendo. As duas começaram a chorar na mesma hora.

Sara, entre soluços, disse algo que me fez gelar:

— A Stela não quer deixar a gente sair!

Então Márcia, chorando ainda mais, completou:

— Ela falou que, se a gente sair, vai fazer alguma coisa muito ruim com todo mundo!

E então Sara disse:

— Ela falou que a gente tem que ficar com ela porque a gente mandou o Mateus embora!

Aquilo foi a gota d’água. Eu não podia ficar mais naquela casa.

Peguei as duas e os bichos e saímos rápido. E, enquanto saíamos, ouvimos um barulho ensurdecedor, como uma batida de carro, ecoando pela casa inteira. As meninas começaram a gritar em pânico e os bichos se encolheram — se eu não tivesse colocado as coleiras, teriam fugido.

Parecia um filme de terror.

Corremos até um posto de gasolina ali perto e liguei para o Beto, contando tudo. Nunca mais voltamos para aquela casa.

As minhas filhas ficaram tão assustadas que dormiram comigo e com o meu marido — junto dos bichos — no mesmo quarto por quase três meses. Só se recuperaram com a ajuda de um psicólogo. Eu e meu marido fomos à igreja buscar um padre para abençoar a família inteira e, graças a Deus, nunca tivemos nenhum encontro paranormal desde então.

Os nomes desta história foram trocados para preservar a privacidade da minha família.