CASA FANTASMA

Poucos sabem — e menos ainda compreendem — que a realidade não é uma só.

Há estruturas — sete camadas de coerência — que se dobram e se intersectam: versões imperfeitas de um real falho e fraturado — chamadas de Contínuos.

São camadas concêntricas e distorcidas, onde as regras que sustentam o “real” se comportam de maneiras diferentes.

O Contínuo não foi criado por um deus, uma entidade cósmica, forças divinas ou algum Big Bang físico.
O Contínuo não foi fabricado — ele aconteceu.

Surgiu de um fenômeno chamado Acidente Primordial:
o resultado de um colapso no próprio tecido da existência, quando:

  • o real,
  • o possível,
  • o impossível,
  • e o negado

colidiram — e não se anularam.

Essa colisão deveria ter destruído tudo antes mesmo do “tudo” existir…
Mas, em vez disso, dobrou a existência sobre si mesma, formando sete estados da realidade:

  • uma camada sólida,
  • uma camada ecoada,
  • uma camada vazia,
  • uma camada cortante,
  • uma camada moldante,
  • uma camada consciente,
  • e uma camada absoluta.

Essas camadas não são mundos criados — são consequências inevitáveis de um erro.
Como se o universo tivesse sido mal interpretado pela própria existência.
Uma existência fraturada.

O Contínuo, como um todo, age quase como um organismo:

  • ele pulsa,
  • responde a estímulos,
  • se reconfigura,
  • e principalmente: tenta manter a Primeira Camada estável.

Foi nela que o colapso inicial conseguiu se estabilizar.
Apesar disso, o Contínuo não é um ser consciente — apenas um sistema tentando não ruir.


Os Sete Contínuos

1 — O Sólido (Primeiro Contínuo)

A cicatriz formada.

A camada mais rígida e estável, o invólucro que segura a existência dentro de si.
O lugar que chamamos de mundo — onde as regras parecem fixas, onde o impossível raramente consegue romper a estabilidade para se manifestar.

2 — O Eco (Segundo Contínuo)

O reflexo imperfeito do Sólido.

Onde ficam presos rastros, lembranças que não querem morrer e vozes que já foram sussurradas. Reverberações que ainda encontram forma.

3 — O Interstício (Terceiro Contínuo)

O intervalo.

O espaço não destinado a nada.
Fragmentos de lugares que não deveriam existir, sombras de estruturas que nunca tiveram propósito.

4 — A Lâmina (Quarto Contínuo)

A camada cortante.

Aqui, a realidade parece dobrada, sobreposta.
O que deveria ter acontecido se mistura com o que realmente aconteceu — dois contornos tentando ocupar o mesmo espaço.

5 — A Moldura (Quinto Contínuo)

O rascunho do mundo.

Modelos inacabados, intenções de matéria, ideias de paisagens tentando decidir o que serão.
A camada que nunca alcançou sua forma final.

6 — O Rostro (Sexto Contínuo)

A camada que percebe.

Onde a realidade possui vontade, impulsos e escolhas.
Não vida — mas consciência em estado bruto.

7 — A Ferida Aberta (Sétimo Contínuo)

O núcleo.

O erro que nunca se fecha.
O poder bruto do momento do Acidente Primordial permanece aqui: caos puro e cru, potencial absoluto e promessa destrutiva.

Permanecer nesse lugar é quase impossível — tudo é consumido e refeito num ciclo sem forma.
A pressão que emana daqui distorce tempo, matéria, percepção e sanidade, vazando para as outras camadas como uma força que invade e tensiona o próprio ato de existir.